Pular para o conteúdo principal

O andor da procissão da bonança pode desabar

Neste artigo, escrito antes da eleição de Dilma Rousseff, Marco Antonio Rocha analisa o crescente peso da máquina pública no atual estágio da economia brasileira

Marco Antonio Rocha, O Estado de São Paulo

O presidente Lula sempre foi contra a ideia de "Estado mínimo". Sempre disse que isso era uma bobagem, que o Estado tem de ser grande e forte. A sua candidata, Dilma Rousseff, diz a mesma coisa. Ainda no exercício da chefia da Casa Civil, diante de indagações sobre a necessidade de um ajuste fiscal para que as contas do governo não enveredassem para o rumo do desequilíbrio - como está acontecendo -, reagia com irritação: por que e para que fazer ajuste fiscal, se a economia está indo bem, só para judiar do povo?

A resposta, dada com frequência, embute a vontade de tingir com a pecha de contrário aos interesses do povo o conceito de ajuste fiscal e, de outro lado, a indicação de que a gastança governamental continuaria, o que agrada muito aos vorazes empreiteiros de obras públicas e a grande parte dos empresários do comércio. O comerciante adora gastança governamental e, também, uma boa dose de inflação, que aumenta o giro dos estoques. Mas a inflação, gerada pelo desajuste fiscal, é o que, de fato, mais judia do povo. Os demagogos de todos os governos preferem, porém, chamar de "arrocho" qualquer política de austeridade nas contas públicas.

É evidente que o projeto político da era Lula-Dilma, e do PT, é de "Estado Grande". Bem grande mesmo. Se todo mundo trabalhar para o Estado e para as empresas estatais, eis aí implantado, na prática, o socialismo, pela ausência da propriedade privada. Fácil. Sem necessidade de revolução, de paredón, de prisão de burgueses, de guilhotina para os nobres, enfim, o socialismo pacificamente instalado.

Como se faz isso sem disparar tiros?

Inchando o Estado até os limites máximos, de modo que nenhuma outra área de atividade disponha de qualquer parcela de poder para contraditar os governantes de plantão.

A confirmação de que a filosofia lulodilmista do Estado Grande não era da boca para fora podemos ler num artigo de Claudia Safatle, do jornal Valor, da última sexta-feira.

Não me entendam mal. Claudia é uma competente jornalista, não afirma nem insinua nada parecido com o que estou dizendo aqui. Inocento-a desta análise. Ela apenas pesquisou e relacionou fatos. Eu é que tiro dos fatos que ela relacionou os fundamentos do que estou dizendo e a indicação de que caminhamos para o Estado Grande mais depressa do que supúnhamos.

E onde ela colheu os fatos?

Em duas publicações do governo: a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, e os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E qual o principal fato que descobriu examinando as duas pesquisas, em dois momentos do tempo?

Descobriu que as administrações públicas dos três níveis (federal, estaduais e municipais) - excluídas as empresas estatais - foram as que criaram a maior quantidade de empregos no País e as que mais contribuíram para o aumento da massa salarial.

Mas, deixemos de conversa mole, e vamos aos fatos pesquisados pela colega. De março a setembro deste ano a administração pública criou 291 mil vagas: a indústria, 137 mil; o setor de serviços, 43 mil; o comércio, 7 mil - segundo a PME. A soma dos empregos criados nos três setores privados é menor do que na administração. O setor da construção civil, o mais dinâmico da economia brasileira atualmente, perdeu 67 mil vagas: tinha 1,706 milhão de empregados em março, ficou com 1,639 milhão em setembro.

Os dados do Caged, que são nacionais, mostram coisa diferente, mas da mesma natureza: a economia gerou menos emprego em setembro deste ano (comparado com setembro de 2008). A indústria compareceu com 25 mil empregos, menos da metade dos 57 mil de setembro/2008; na construção civil a queda foi de 19 mil. Enquanto isso, a administração pública manteve o mesmo ritmo de contratações: 82 mil no mês.

Ora, o governo tinha reduzido impostos para incentivar o consumo, portanto suas receitas caíam ou subiam menos, mas continuava a turbinar o empreguismo público. Em março deste ano, eliminou os incentivos fiscais (melhorou suas receitas) e, logo depois, o Copom começou a aumentar a Selic (aumento de despesas para o setor privado): de lá para cá - aponta o artigo - a administração aumentou de 15,6% para 16,6% sua participação no estoque de pessoas empregadas no País, enquanto a do setor privado passou a diminuir.

De março a setembro deste ano a massa salarial nacional cresceu 7,2%. Nela, a massa salarial da administração cresceu 15,6%, enquanto a do setor privado cresceu 4,5% (da construção civil, 3,9%; dos serviços, 2,8%; e do comércio, 1,5%).

Agora, uma conclusão pertinente da Claudia: excluído o setor público, o crescimento da economia, do emprego, dos rendimentos ocorre, de fato, de forma bem mais moderada do que parece.

Isso poderá aparecer mais nitidamente no ano que vem, quando o governo tiver de controlar melhor seus gastos, a contratação de funcionários, a expansão do crédito e outros fatores que ajudaram a carrear aplausos e votos para a sua candidata.

Autor(es): Marco Antonio Rocha

O Estado de S. Paulo - 25/10/2010

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pouco mais de Cláudio Bier. A pedidos

Cláudio Bier em seu escritório na Masal  Cláudio Bier é um dos maiores empregadores privados de Santo Antônio da Patrulha. Juntando as duas unidades da Masal - a patrulhense e a fábrica em Farroupilha -, a empresa dá emprego para mais de 270 pessoas. A metalúrgica Jacuí, que ficou responsável pela fabricação da linha agrícola (carretas graneleiras e implementos para plantio), emprega 40 pessoas em Cachoeira do Sul. A filha Maremília está sendo preparada por Bier para assumir o comando das indústrias. É formada em administração de empresas, aperfeiçoou o inglês em uma temporada de mais de um ano fora do país e foi a responsável pela reestruturação da Jacuí assim que o pai assumiu a empresa. Mesmo na crise que tomou conta da economia brasileira no segundo mandato da presidente cassada Dilma Rousseff, a Masal conseguiu manter-se firme no mercado. Com muitas decisões baseadas nos dois pés no chão, Cláudio Bier conquistou uma estabilidade extraordinária. Em 2016, a empresa teve um

Bela em Rivazto - Bruna Muniz Barcelos

Bruna Muniz Barcelos, 23 anos, nascida no dia 18 de Abril de 1993 é residente de Santo Antônio da Patrulha. Bruna é filha de José Levi Gomes de Barcelos e Maria Nelci Muniz Barcelos. Atualmente está no quarto semestre de Psicologia na instituição UNICNEC e trabalha no Sindicato Rural de Santo Antônio da Patrulha. Sobre os seus planos futuros, a jovem diz que vive o presente,  além de se formar e atuar na área.  Bruna afirma que carrega consigo uma determinação inexplicável,  que tudo que coloca em mente geralmente põe em prática e acredita que isso seja um ponto positivo. Ela acredita que toda essa "garra" venha da personalidade, um tanto quanto forte, brinca que o signo de Áries a define sempre.  O ensaio foi realizado dia 11 de Fevereiro deste ano pelo fotógrafo Édipo Mattos. Contou ainda com a produção de Rafael Martiny e maquiagem de Aline Costa. 

Lojas Havan em Santo Antônio?

Fachadas das lojas têm a tradicional réplica da Estátua da Liberdade (foto: site Havan)  A tradicional rede catarinense de lojas de departamentos Havan pode ter visto no seu radar de expansão o município de Santo Antônio da Patrulha. No dia 6 de janeiro, o vice-prefeito José Francisco Ferreira da Luz, o Zezo, fez um contato com o diretor de Expansão da empresa, Nilton Hang, oferecendo a possibilidade de um terreno às margens da BR-290 Free-Way para uma eventual instalação de uma loja. O contato foi informal e ainda não houve nenhuma documentação de interesse por parte da prefeitura de Santo Antônio da Patrulha. Mesmo que tenha sido o primeiro contato, fica a torcida para que Santo Antônio possa ser a sede da primeira loja da empresa, que já tem pontos em 14 estados brasileiros. Para quem costuma ir a Santa Catarina, o visual das lojas impressiona. Todas elas têm réplicas enormes da Estátua da Liberdade junto ao estacionamento. As Lojas Havan vendem de louças a brinquedos, roupas