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A maior aposta de todos os tempos

Petrobras comemora a maior captação de dinhei ro já realizada na história dos mercados. Agora, tem pela frente um desafio colossal. Seu sucesso ou fracasso terá consequências para todo brasileiro

A festa foi impecável: a Petrobras esperava convencer investidores do mundo todo a se tornar seus sócios na custosa empreitada de extrair petróleo das profundezas do subsolo oceânico, mais de 5.000 metros abaixo do nível do mar. Conseguiu. Numa corrida que começou em 3 de setembro e se acelerou até a quinta-feira passada, os investidores pessoas físicas, empresas, bancos, fundos aceitaram o convite e fizeram uma aposta no sucesso futuro da companhia. A Petrobras recebeu US$ 67 bilhões (R$ 115 bilhões) pelas novas ações que distribuiu ao mercado. Dois terços desse valor vieram na forma de direitos sobre petróleo ainda por extrair, dados em pagamento pelo governo federal. Um terço veio de investidores privados, convencidos de que valeria a pena correr o risco. Com a operação, o mercado acionário, um juiz frio e sem motivações políticas, atribuiu um valor às reservas contidas na camada pré-sal. Assim, a Petrobras cresceu quase 50% de um dia para o outro. Seu valor de mercado subiu para US$ 220 bilhões. Ela caminha para disputar a liderança mundial no setor. A Exxon (maior petrolífera do mundo, com valor superior a US$ 300 bilhões) não tem na carteira nada que indique crescimento futuro como o que a Petrobras tem, afirma Márcio Macedo, sócio-gestor da administradora de recursos Humaitá.

A cerimônia de lançamento dos novos papéis na Bolsa contou com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que não resistiu a usar uma versão inflada de seu bordão mais famoso: Nunca antes na história da humanidade tivemos uma capitalização da envergadura que fazemos hoje. Nesse ponto, Lula está certo. O feito merece celebração. Foi a maior operação desse tipo já realizada no mundo (embora com uma bela ajuda dos fundos do Estado). Ela evidencia o potencial da empresa, assim como a relevância e o dinamismo do mercado brasileiro. Representou uma vitória também para a Bolsa brasileira, a BM&FBovespa, e para os 18 bancos envolvidos, incluindo os braços de investimento de Bradesco, Itaú Unibanco e Banco do Brasil. Mas o tamanho da operação se torna bem menos impressionante quando o comparamos com a dimensão dos riscos e dificuldades que a Petrobras tem pela frente.

EXTRAÇÃO DE DINHEIRO
Conseguir lucro com o petróleo do pré-sal exigirá navios e plataformas em maior número e com maior capacidade do que a Petrobras dispõe hoje. A companhia precisará de tecnologia ainda em fase de amadurecimento para extrair e transportar a matéria-prima com um alto nível de segurança trabalhista e ambiental, especialmente alto após o vazamento ocorrido neste ano num poço da britânica BP, no Golfo do México. A Petrobras prevê investir, entre 2010 e 2014, US$ 224 bilhões quase dez vezes o que a empresa vai embolsar em dinheiro agora, com a operação de capitalização. Esse ritmo de investimento vai ter de continuar pelo menos igual, provavelmente aumentar. O pré-sal é um projeto de longo prazo, diz o analista Fernando Fanchin, da empresa de investimentos Rio Bravo. A Petrobras achou indícios desse petróleo em 2005, começou a extraí-lo em 2008 e espera que ele corresponda a 5% de sua produção em 2014. Um volume mais relevante, de até um terço da produção, pode ser atingido no final da década. Pelo menos dois tipos de riscos ameaçam essa trajetória.

Um deles tem a ver com fatores puramente de mercado. Se os gastos e os investimentos da empresa crescerem rápido demais ou os resultados demorarem muito mais que o esperado, ela afugentará investidores. Nesse aspecto, a capitalização forneceu um alívio momentâneo. Na quinta-feira mesmo, uma das maiores agências classificadoras de risco, a Standard & Poors, informou que manteria o crédito da Petrobras com a mesma boa nota e destacou que o governo provavelmente socorreria a empresa no futuro, caso ela estivesse em dificuldades. O que pode ser tranquilizador para credores da Petrobras não soa tão bem assim para o contribuinte brasileiro. A Petrobras precisa também da colaboração de um conjunto de fatores para ter lucro garantido com o pré-sal. Ela precisaria cortar custos e descobrir formas mais baratas de extrair petróleo, caso o preço da matéria-prima caia para uma faixa inferior à atual, entre US$ 70 e US$ 80 por barril, e permaneça lá por longos períodos. Além disso, o mercado comprador deverá passar por mudanças importantes nas próximas décadas, com uma lenta mas contínua redução de consumo nos Estados Unidos, no Japão e na Europa Ocidental, que deverá ser compensado pelo aumento de consumo nos países em desenvolvimento, com a China à frente.

O outro tipo de risco tem a ver com o governo brasileiro é político. A cada troca de presidente da República abre-se uma dúvida sobre quem será o próximo presidente da companhia, quais diretores serão trocados e se as pessoas que assumirão os cargos têm competência técnica. Na operação da semana passada, o governo comprou proporcionalmente mais novas ações do que os investidores privados e conseguiu aumentar sua participação, de 40% para perto de 48%. Em seu discurso na Bolsa, Lula acertou ao indicar os objetivos para o dinheiro do pré-sal que ficar com o governo universalizar a educação de qualidade e erradicar a pobreza, não com medidas paternalistas, mas pelo desenvolvimento econômico e pelo aumento de competitividade. O presidente foi menos feliz ao criticar governos anteriores, que teriam tentado, em sua visão, debilitar o Estado.

Ao defender o aumento do poder do Estado, os presidentes o atual e os próximos precisam se lembrar que dois caminhos bem distintos separam os países donos de grandes reservas de petróleo. Um levou a sociedades como Reino Unido e Noruega. O outro, mais fácil, levou aos graus de pobreza, corrupção e autoritarismo vistos na Venezuela, na Arábia Saudita, na Rússia, no Irã e outros. O sucesso do primeiro grupo se deveu não a Estados fortes, e sim a sociedades educadas que puderam contar com Estados eficientes.
Vanessa Carvalho e Marcos Coronato, Época

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