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Eles nem trabalham e já brigam pela aposentadoria

Roberta Namour, IstoÉ Dinheiro


Reforma da Previdência provoca quebra-quebra na França e traz lições para o Brasil: quanto mais adiada, mais explosiva ela se torna

Em poucos minutos, a praça Bellecour, no centro de Lyon, se tornou um campo de batalha. De um lado, estudantes do ensino médio de braços dados e faixas na cabeça. Do outro, uma centena de policiais com bombas de gás lacrimogêneo nas mãos.

Uma cena que remete ao legendário movimento de maio de 1968, mas em um contexto bem diferente. O que trouxe essa nova geração às ruas foi uma reforma presidenciária que aumentará em dois anos a idade mínima de aposentadoria dos franceses, intocada desde 1983.

Os jovens em dificuldade e os idosos na miséria. Não queremos essa sociedade, diz o emblema dos estudantes, que elegeram como mártir o jovem Geoffrey Tidjani, 16 anos, ferido no olho por uma bala de borracha num confronto com a polícia em Montreuil.

Quanto mais tempo os velhos continuarem no mercado, menos chances teremos de encontrar trabalho, tenta explicar Michelle De Place, 16 anos. A motivação, que parece absurda aos olhos de outras nações europeias que já trabalham cinco anos a mais que a França, está levando o país para perto de um colapso.

Durante uma semana, 3,5 milhões de pessoas saíram diariamente às ruas pelos quatro cantos da França para protestar. À frente delas, a candidata à Presidência pelo partido socialista, Ségolène Royal.

Mais de 300 manifestantes foram detidos pela queima de carros e depredação de bens do patrimônio público. Nos postos de gasolina, longas filas de carros à procura de combustível. Viagem perdida.

Das 12 refinarias da França, dez estão paralisadas e quase quatro mil bombas já secaram. Os braços também foram cruzados nas estações de trem e nos aeroportos. No Charles de Gaulle-Roissy, o maior aeroporto do país, na região parisiense, 30% dos voos foram cancelados.

Apenas um em cada três trens de alta velocidade está em funcionamento. A operação Escargot levou centenas de caminhões às estradas para interromper o tráfego de carros..

O motivo de tanta revolta nas ruas da França é a mudança da idade mínima legal da aposentadoria no país de 60 para 62 anos e de 65 para 67 anos para concessão da pensão integral, num ritmo de quatro meses a mais por ano. Apesar do impacto das manifestações, o governo parece decidido.

Vou até o final com essa reforma previdenciária porque o meu dever como chefe de Estado é garantir aos franceses e a seus filhos o acesso à aposentadoria e à pensão completa, afirmou o presidente Nicholas Sarkozy.

Num país que tem quase um quarto de sua população acima de 60 anos, um déficit público de 7,8% do PIB e a dívida pública de 80% do PIB, a reforma parece inevitável. No entanto, depois de 27 anos de espera e num contexto de forte crise econômica, ela cai de forma indigesta aos franceses e poderá custar caro ao presidente em exercício. No último mês, Sarkozy bateu o recorde de impopularidade à frente do governo frânces. No barômetro BVA, ele atingiu a marca de 69% de desaprovação, um piso histórico.

A situação da França é um alerta para os países que ainda não enfrentaram uma reforma no sistema de seguridade social, como o Brasil. Apesar de a questão ter sido esquecida na campanha eleitoral de José Serra e de Dilma Rousseff, o próximo governo terá de encarar o problema do envelhecimento dos brasileiros.

O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) projeta que a população brasileira deve parar de crescer por volta de 2030, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os idosos (com 60 anos ou mais), que respondiam por 7,9% dos brasileiros em 1992, hoje já representam 11,4%.

Outro alerta é o aumento da expectativa de vida, que em 2009 atingiu 73,1 anos, mais 3,1 anos em relação a 1999. O envelhecimento da população brasileira deve levar o País a aumentar a idade mínima para aposentadoria e acabar com a aposentadoria compulsória, afirma a coordenadora do Ipea, Ana Amélia Camarano.

Mesmo com o aumento do número de trabalhores com carteira assinada, a Previdência Social apresentou déficit acumulado de R$ 30,7 bilhões no período janeiro-agosto, e deve superar a previsão de déficit de R$ 45 bilhões este ano. Ou seja: uma reforma no Brasil é tão urgente quanto necessária. Resta saber como os brasileiros podem reagir à mudança iminente. Farão como os franceses?

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