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Lições para o futuro

Denise Bueno, Valor Econômico

Ela tem 65 anos e diz que nasceu professora. No dia 15 de outubro de 1945, formou-se em Letras e dedicou a vida ao ensino. Atualmente, leciona na Faculdade de Artes de São Paulo, e há três anos dedica-se a aprender a investir em ações. "Acho a educação financeira essencial. É preciso saber como fazer o dinheiro trabalhar a seu favor. Isso é uma necessidade, principalmente com o bônus da longevidade", diz Adelina Messura Matheus.
Em casa mesmo, ela aprende sobre mercado de capitais, aplica parte de suas economias em um clube de investimento e agora só presenteia o neto Guilherme, de um ano, com ações. "Deste tamanho e já é sócio da Vale, Gafisa e Gerdau", conta.

Disposta a aproveitar o boom da bolsa de valores, Adelina optou por um clube de investimentos para iniciar-se no mundo das novas aplicações. "Entrei na hora errada. Mas fiquei firme lá e já recuperei o capital", lembra.

Numa economia em crescimento acelerado, onde os consumidores demonstram grande avidez para as compras, a educação financeira, como na escolha de Adelina, é vista como ferramenta estratégica sob muitos aspectos. Com maior acesso a crédito e, consequentemente, poder de compra, as famílias recorrem a cursos e consultorias para evitar que a fase de bonança passe sem que tenham poupado para o futuro.

Para se ter uma ideia desse movimento, em 2000, havia 48,2 milhões de contas correntes ativas no sistema financeiro nacional, número que ultrapassou 90 milhões em 2009. No crédito, o avanço também foi surpreendente. De uma participação de 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2000, as pessoas físicas passaram a responder por mais de 15% em 2009.

Para evitar que a abundância de crédito se torne um problema para as famílias e também para as empresas, as principais instituições financeiras transformaram os programas de educação financeira - que até então eram iniciativas isoladas - em projeto prioritário de conscientização social, a começar dentro de casa. Ou seja, passaram a treinar seus funcionários nos bancos, financeiras, operadoras de bolsa, fundos de investimentos, seguradoras e empresas de cartão de crédito.

"Aplicamos um teste entre os nossos funcionários e, mesmo trabalhando no meio de seguros, 55% das pessoas perceberam que não tinham garantias suficientes em caso de morte", conta Fábio Luchetti, vice-presidente da Porto Seguro. Com base nessa experiência, a Porto Seguro treinou mais de 20 mil corretores em diversos produtos, prioritariamente vida e previdência. "Queremos ajudar o corretor a ser um consultor e multiplicador em educação financeira", afirma Luchetti.

Denise Hills, supervisora de sustentabilidade do Itaú Unibanco, diz que não só as classes menos favorecidas passaram a ter acesso aos serviços financeiros. "Há muita falta de informação em toda a sociedade", afirma.

"Quando o assunto é previdência privada, podemos dizer que há um analfabetismo a ser superado", diz Aura Rebelo, da Icatu Seguros.

Segundo Odair Afonso, diretor do Bradesco, para a menor renda, a compra de uma moto, por exemplo, ainda é vista como investimento. "Se a pessoa está com as prestações em dia, diz que não deve nada ao banco. Se tem duas parcelas atrasadas, diz que deve só o valor das duas."

Para entender melhor a mudança de comportamento desse público, o Bradesco repetiu uma pesquisa feita em 2000 com uma amostra de 3,3 mil pessoas. Na época, 73% consideraram essencial ter conta corrente, ficando o financiamento e o cartão de crédito em segundo plano. "O cartão de crédito era tido como essencial para apenas 11% dos entrevistados e como indiferente para 52%", revela. Dez anos depois, o cartão passou a ser essencial para 73% e o crédito, para 65%.

Preocupada com essa tendência, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) realizou uma pesquisa com 400 consumidores para entender como usam o dinheiro.

Um dado chamou a atenção: o descontrole financeiro de boa parte dos entrevistados. Cerca de 37% disseram que as contas em atraso se devem à falta de controle; 25,4%, ao desemprego; 20,9%, a gastos inesperados; 6,8% pagam contas de terceiros; 1,7% simplesmente esqueceram-se de pagar e 8,5% alegaram outros motivos.

Tal problema é motivado, principalmente, por gastos com lazer, pequenas despesas do dia a dia e imprevistos. Diante dessas conclusões, bancos e entidades ativaram seus programas de educação. Neste mês, por exemplo, teve início o projeto piloto de várias instituições, como Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Banco Central, Superintendência de Seguros Privados (Susep) e BM&FBovespa, que pretende erradicar o analfabetismo financeiro do Brasil. A primeira fase envolverá 15 mil alunos de ensino médio até 2011, informa José Alexandre Vasco, superintendente da CVM.

Foram desenvolvidas cartilhas para os alunos dos nove anos do ensino fundamental e três do ensino médio. O conteúdo será abordado pelo professor em sala de aula nas diversas matérias. Os alunos e as famílias serão submetidos a uma avaliação e com o resultado o programa será aperfeiçoado para chegar a 200 mil escolas.

A orientação parece estar surtindo efeito. Desde que foi lançado, em 2009, o portal de finanças pessoais do Itaú já contabilizou 1 milhão de acessos. O Banco do Brasil tem concentrado esforços na educação dos jovens e universitários. Em um mês, o portal teve 50 mil visitas, informa o diretor Antonio Cássio Seguro. Segundo ele, a planilha de controle de gastos, o curso de finanças pessoais online e o guia prático de investimentos são os produtos mais acessados.

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