Rodrigo Sias, no Brasileconomico
Em sua despedida do senado, FHC fez um discurso sobre as diretrizes de seu mandato presidencial, que significaria o fim da Era Vargas. Lula promoveu um "resgate de Vargas", se identificando com o legado e estilo de política getulista. Getúlio e Lula foram eleitos devido ao enorme carisma junto à população.
Getúlio optou por conduzir uma política econômica ortodoxa para "sanear" a economia, e Lula seguiu o receituário liberal da "Carta ao Povo Brasileiro".
Para o primeiro, a política econômica ortodoxa não funcionou e polarizou a sociedade. Ele decidiu-se então por uma "guinada nacionalista", e enfrentou uma feroz cruzada por parte do jornalista e político da UDN, Carlos Lacerda, que denunciava corrupção e o populismo de seu governo.
O fracasso da política econômica e o atentado da rua Tonelero inviabilizaram o governo de Getúlio. Os escândalos de Lula foram muitos e o principal, "mensalão", paralisou o governo.
Em seu auge, o principal partido de oposição, o PSDB, não perdia a oportunidade de evocar Lacerda para atacar Lula.
Mas a oposição atual não soube aproveitar o desgaste do presidente, que se desvencilhou das acusações. Lula contou com um ciclo inédito de crescimento mundial, algo que faltou a Getúlio.
A "guinada nacionalista" de Lula veio com o segundo mandato e se acelerou com a crise de 2008: se Getúlio criou a Petrobrás, Lula se apresenta como o "defensor do pré-sal", reeditando o "petróleo é nosso".
Se Getúlio criou o BNDES, Lula ampliou o escopo do banco, sua principal arma contra a crise. Se Getúlio criou a CLT, Lula quis fazer a "Consolidação das Leis Sociais". Getúlio era visto como o "pai dos pobres", e Lula, o "homem do povo".
Getulio era um oligarca, mas pragmático. Promoveu a "modernização conservadora" negociando com as elites tradicionais. Lula, apesar da origem pobre, representa o conservadorismo na política: a ótima relação com Sarney é o melhor exemplo disto.
A base partidária de Getúlio era o PTB e PSD, análogos ao PT e PMDB que apoiam Lula. Se PT e PTB representam a esquerda, PSD e PMDB são os tentáculos fisiológicos da "política tradicional". Se Getúlio criou o PTB e o PSD, Lula é fundador do PT.
Getúlio domesticou os sindicatos com a contribuição sindical e Lula, ao incorporar CUT e Força Sindical, domesticou os sindicalistas "independentes".
Getúlio se gabava de ser o melhor intérprete da "alma política brasileira". Lula não fica atrás e, como Getúlio, virou uma espécie de árbitro de todos os conflitos, que passam pelo Estado graças a sua capacidade de mediação.
Lula elegerá Dilma tal como Getúlio elegeu Dutra? Ou Dilma representaria a "esquerda radical", tal como Jango? Muitos têm a certeza de que 2011-2014 será um "mandato tampão", pois Lula voltaria em 2014, tal como Getúlio.
Hegel observou que grandes momentos da história ocorreram duas vezes. Já Karl Marx diria que tais fatos ocorreriam "a primeira vez como tragédia e, a segunda, como farsa".
O suicídio de Getúlio foi uma tragédia e "o passado é lição para se meditar, não para reproduzir", como dizia Mário de Andrade. Mas Lula quer entrar para a história. Lula quer repetir Getúlio.
*Rodrigo Sias é economista da área industrial do BNDES
Em sua despedida do senado, FHC fez um discurso sobre as diretrizes de seu mandato presidencial, que significaria o fim da Era Vargas. Lula promoveu um "resgate de Vargas", se identificando com o legado e estilo de política getulista. Getúlio e Lula foram eleitos devido ao enorme carisma junto à população.
Getúlio optou por conduzir uma política econômica ortodoxa para "sanear" a economia, e Lula seguiu o receituário liberal da "Carta ao Povo Brasileiro".
Para o primeiro, a política econômica ortodoxa não funcionou e polarizou a sociedade. Ele decidiu-se então por uma "guinada nacionalista", e enfrentou uma feroz cruzada por parte do jornalista e político da UDN, Carlos Lacerda, que denunciava corrupção e o populismo de seu governo.
O fracasso da política econômica e o atentado da rua Tonelero inviabilizaram o governo de Getúlio. Os escândalos de Lula foram muitos e o principal, "mensalão", paralisou o governo.
Em seu auge, o principal partido de oposição, o PSDB, não perdia a oportunidade de evocar Lacerda para atacar Lula.
Mas a oposição atual não soube aproveitar o desgaste do presidente, que se desvencilhou das acusações. Lula contou com um ciclo inédito de crescimento mundial, algo que faltou a Getúlio.
A "guinada nacionalista" de Lula veio com o segundo mandato e se acelerou com a crise de 2008: se Getúlio criou a Petrobrás, Lula se apresenta como o "defensor do pré-sal", reeditando o "petróleo é nosso".
Se Getúlio criou o BNDES, Lula ampliou o escopo do banco, sua principal arma contra a crise. Se Getúlio criou a CLT, Lula quis fazer a "Consolidação das Leis Sociais". Getúlio era visto como o "pai dos pobres", e Lula, o "homem do povo".
Getulio era um oligarca, mas pragmático. Promoveu a "modernização conservadora" negociando com as elites tradicionais. Lula, apesar da origem pobre, representa o conservadorismo na política: a ótima relação com Sarney é o melhor exemplo disto.
A base partidária de Getúlio era o PTB e PSD, análogos ao PT e PMDB que apoiam Lula. Se PT e PTB representam a esquerda, PSD e PMDB são os tentáculos fisiológicos da "política tradicional". Se Getúlio criou o PTB e o PSD, Lula é fundador do PT.
Getúlio domesticou os sindicatos com a contribuição sindical e Lula, ao incorporar CUT e Força Sindical, domesticou os sindicalistas "independentes".
Getúlio se gabava de ser o melhor intérprete da "alma política brasileira". Lula não fica atrás e, como Getúlio, virou uma espécie de árbitro de todos os conflitos, que passam pelo Estado graças a sua capacidade de mediação.
Lula elegerá Dilma tal como Getúlio elegeu Dutra? Ou Dilma representaria a "esquerda radical", tal como Jango? Muitos têm a certeza de que 2011-2014 será um "mandato tampão", pois Lula voltaria em 2014, tal como Getúlio.
Hegel observou que grandes momentos da história ocorreram duas vezes. Já Karl Marx diria que tais fatos ocorreriam "a primeira vez como tragédia e, a segunda, como farsa".
O suicídio de Getúlio foi uma tragédia e "o passado é lição para se meditar, não para reproduzir", como dizia Mário de Andrade. Mas Lula quer entrar para a história. Lula quer repetir Getúlio.
*Rodrigo Sias é economista da área industrial do BNDES
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