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O déficit de soberania brasileira na Amazônia



Material publicado originalmente em defesanet.com.br
Ruy Fabiano

A crise venezuelana, que despejou de uma só vez cerca de 50 mil refugiados em Roraima, agravando a crise social do estado, expõe o desconcerto da política indigenista brasileira, que une a retórica esquerdista aos interesses geoestratégicos do capital internacional.
O general Augusto Heleno, que era o comandante militar da Amazônia, ao tempo da demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, em 2008, advertiu para os danos econômicos e sociais da expulsão dos arrozeiros, cuja produção respondia por 8% do PIB do estado.

Expulsos, tornaram-se favelados em Boa Vista e a economia local empobreceu. Eram mais de 300 famílias, além de seus empregados, quase todos de etnia indígena, mas sem a grife de “aldeados”. Os 1,7 milhão de hectares da reserva – quase o estado de Sergipe – ficaram com os 20 mil índios aldeados.
Aos demais 500 mil habitantes, sobraram os 25% da área do Estado que escapou das demarcações.
“Alertei sobre a falta de critério daquela demarcação ideológica. Economistas avisaram que a expulsão dos arrozeiros era medida social e economicamente desastrosa”, relembra o general.
E acrescenta: “Hoje, a situação criada pela ditadura bolivariana de Maduro poderia ser contornada pela ampliação da cultura arrozeira e pelo consequente emprego de boa parte da mão de obra estrangeira que chegou a Roraima. Infelizmente, vêm aí mais improvisação e desordem urbanas”.
Os desacertos da política indigenista brasileira podem ser medidos em números: os 600 mil índios aldeados, de tribos diversas, são titulares de 13% do território nacional, enquanto os demais 200 milhões de brasileiros habitam apenas 11%. Os dados são do IBGE.
Acresce que, exatamente nessas terras indígenas, cuja extensão eles sequer abarcam, estão algumas das maiores reservas de minérios do planeta, fora do alcance do Estado brasileiro, mas não de grupos econômicos internacionais, que, via ONGs, estabelecem linha direta com as tribos, como se fossem nações independentes.
O comandante do Exército, general Villas-Boas, fala de “déficits de soberania” na região. Foi, quando comandante militar da Amazônia, surpreendido pela presença do rei da Noruega, Harald V, que, sem qualquer comunicado às autoridades brasileiras, foi hóspede dos yanomamis, entre 22 e 25 de abril de 2013. Só comunicou sua visita uma semana depois de deixar o país.
São mais de 100 mil ONGs, a maior parte estrangeiras, na Amazônia. Ditam a política indigenista, ao lado de órgãos da esquerda Católica, exercendo pleno domínio sobre a Funai.
Uma delas, a norueguesa Rainforest Foundation Norway, promoveu a visita do rei. A embaixadora daquele país, Aud Marit Wiig, defende o financiamento estrangeiro às comunidades indígenas. E ressalta que os da etnia Sami, sustentados por verbas de seu país, já têm hoje seu próprio parlamento. Daí para um assento na ONU é um passo. A Rainforest defende a ampliação das reservas.
E o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da Igreja Católica, financia e incita invasões de índios a fazendas produtivas, algumas há mais de um século tituladas, segundo denúncia de uma CPI de 2015, da Câmara, presidida pelo deputado Alceu Moreira. Segundo ele, “esse crime é de laboratório e feito a muitas mãos”.
A solidariedade humana aos índios não se estende ao Nordeste. As vítimas das secas dispõem de exatamente zero ONGs para atendê-las. Lá, não há minérios: só humanos, sem direitos.

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