Pular para o conteúdo principal

Será que a redução do preço da eletricidade está sob ameaça?




ricardo galuppo - publisher do brasil econômico

A decisão da Cemig de não pedir a renovação dos contratos de concessão de três de suas hidrelétricas e preferir resolver a questão na Justiça é a prova definitiva do grau de improvisação que cercou a promessa de redução das tarifas de energia elétrica anunciada por Brasília em setembro passado.

Essa promessa, só para recordar, foi saudada neste espaço, à época, como "o passo mais efetivo dado até o momento para a redução do Custo Brasil".

A renovação das concessões de usinas com base em regras definidas naquela ocasião era parte essencial do plano que previa (e ainda prevê) reduções entre 16% e 28% nas contas de luz a partir do próximo mês de janeiro. Tudo parecia líquido e certo. Mas não estava.

O governo federal, pelo visto, anunciou uma medida importante e de impacto real sobre as empresas sem que as condições capazes de garantir sua concretização estivessem asseguradas.

A resistência da Cemig e de outras concessionárias em aceitar contratos em termos que, no final das contas, podem reduzir sua lucratividade indica que a queda das tarifas talvez não seja tão expressiva quanto se imaginou originalmente. E isso é lamentável.

A questão é séria e delicada. De um lado, não se pode tirar a razão da Cemig, que deseja preservar seus direitos com base nas condições pactuadas na época da construção das usinas. Mas, por outro lado, também não se pode negar que a redução das tarifas é uma necessidade nacional e que, se levada a cabo, estimulará a economia no país inteiro.

Inclusive em Minas Gerais, estado governado por um partido que faz oposição ao governo federal e que é a terra da concessionária que optou por levar à Justiça os termos da concessão das usinas que construiu. Esse é o ponto.

Aparentemente, tudo se reduz a uma queda de braços entre o governo federal e uma empresa que tem como principal acionista um dos estados mais destacados da federação. Seria um erro grosseiro, no entanto, reduzir a discussão de um tema tão relevante à mera disputa política.

A questão é muito mais complexa do que isso, e o fio desse novelo, se for puxado com seriedade, mostrará que os problemas brasileiros estão de tal forma entrelaçados que sua discussão não pode mais ser fatiada como tem sido. Essa mania de privilegiar as partes e não o todo não é uma característica desse governo.

É uma tradição nacional. O ponto central da luta da Cemig por rentabilidade é que o estado de Minas Gerais não está em condições de abrir mão de um centavo de suas receitas e que os dividendos que recebe da estatal são importantes para fechar as contas.

Se o governo federal oferecer condições mais favoráveis para que Minas Gerais pague a dívida que tem com a União, talvez possa encontrar caminho livre para a redução das tarifas de energia. Pode parecer simples demais. Mas pode ser um bom começo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pouco mais de Cláudio Bier. A pedidos

Cláudio Bier em seu escritório na Masal  Cláudio Bier é um dos maiores empregadores privados de Santo Antônio da Patrulha. Juntando as duas unidades da Masal - a patrulhense e a fábrica em Farroupilha -, a empresa dá emprego para mais de 270 pessoas. A metalúrgica Jacuí, que ficou responsável pela fabricação da linha agrícola (carretas graneleiras e implementos para plantio), emprega 40 pessoas em Cachoeira do Sul. A filha Maremília está sendo preparada por Bier para assumir o comando das indústrias. É formada em administração de empresas, aperfeiçoou o inglês em uma temporada de mais de um ano fora do país e foi a responsável pela reestruturação da Jacuí assim que o pai assumiu a empresa. Mesmo na crise que tomou conta da economia brasileira no segundo mandato da presidente cassada Dilma Rousseff, a Masal conseguiu manter-se firme no mercado. Com muitas decisões baseadas nos dois pés no chão, Cláudio Bier conquistou uma estabilidade extraordinária. Em 2016, a empresa tev...

Lojas Havan em Santo Antônio?

Fachadas das lojas têm a tradicional réplica da Estátua da Liberdade (foto: site Havan)  A tradicional rede catarinense de lojas de departamentos Havan pode ter visto no seu radar de expansão o município de Santo Antônio da Patrulha. No dia 6 de janeiro, o vice-prefeito José Francisco Ferreira da Luz, o Zezo, fez um contato com o diretor de Expansão da empresa, Nilton Hang, oferecendo a possibilidade de um terreno às margens da BR-290 Free-Way para uma eventual instalação de uma loja. O contato foi informal e ainda não houve nenhuma documentação de interesse por parte da prefeitura de Santo Antônio da Patrulha. Mesmo que tenha sido o primeiro contato, fica a torcida para que Santo Antônio possa ser a sede da primeira loja da empresa, que já tem pontos em 14 estados brasileiros. Para quem costuma ir a Santa Catarina, o visual das lojas impressiona. Todas elas têm réplicas enormes da Estátua da Liberdade junto ao estacionamento. As Lojas Havan vendem de louças a brinquedos, ro...

Nilo Peçanha, o primeiro presidente negro do Brasil

Há pouco mais de duas semanas, Joaquim Barbosa lançou sua candidatura à presidência da República. Durante cerimônia no Supremo Tribunal Federal (STF) para colocar o seu retrato na galeria de ex-presidentes da corte, Barbosa afirmou que “a decisão de me candidatar ou não está na minha esfera de deliberação.” publicado originalmente em www.ilisp.org O ex-ministro, que se aposentou em 2014, aos 59 anos (mais de 10 anos antes do limite previsto em lei), alegando “ameaças”, subitamente descobriu que a cadeira presidencial é menos ameaçadora. As dores na coluna, que o faziam participar das sessões de julgamento da Ação Penal 470 (“Mensalão”) em pé, passaram. Tudo em nome de aplacar a dor da esquerda que pode ficar ver seu candidato principal, Lula, ser eleito presidente da cadeia; e que tem como plano C um político instável, falastrão e enrolador como Ciro Gomes. O Plano J ainda viria com a aura de “combate à corrupção” que nenhum pré-candidato canhoto pode alcançar. ...