felipe scherer* - brasil econômico
Há um vídeo no YouTube do lançamento oficial do iPhone na MacWorld de 2007. Naquele dia, Steve Jobs conduziu a apresentação do novo aparelho e iniciou o evento com a seguinte mensagem: "De vez em quando aparece um produto revolucionário que muda tudo... hoje a Apple vai reinventar o telefone...".
Durante mais de uma hora, o então CEO apresentou todas as novas funcionalidades e os benefícios do aparelho. Além de destacar as características do produto, também destacou suas vantagens perante os concorrentes da época.
Com a plateia (basicamente composta por formadores de opinião) extasiada com a novidade, ele finaliza o discurso com uma citação de um jogador de hockey: "Eu patino para onde o disco vai estar e não onde ele esteve. E sempre temos tentado fazer isso na Apple, desde o começo, e sempre faremos".
Muitas vezes escuto de executivos de empresas que o mercado não entende as inovações desenvolvidas pela companhia, e por isso não as compra. Também não são raras as empresas cujos portfólios têm diversos produtos e serviços pouco conhecidos pelo mercado.
É fato que nem sempre as novidades são bem percebidas pelos consumidores (vide os casos da TV com videocassete embutido, refrigerante de cereja...), mas muitas vezes o problema está na fase final do processo de inovação: como comunicar a novidade adequadamente.
Inicialmente surge o desafio de convencer os pioneiros sobre proposta de valor e novos atributos desenvolvidos. A famosa curva de adoção a novas tecnologias aponta que é preciso rapidamente atingir quem busca os sentimentos de status e acredita que as novidades podem tornar a vida mais fácil.
Depois busca-se atender os que têm desconforto e insegurança com as novidades. Não basta que o produto ou o serviço funcione corretamente, é preciso criar a segurança que ele cumpre aquilo a que se propõe.
Outro passo importante é ensinar o mercado a usar a inovação, já que muitas vezes ela muda significativamente a forma como as coisas são feitas. Trocar a agência bancária pelo internet banking requer, por exemplo, assistência pessoal e orientação para muitas pessoas que não estão familiarizadas com a internet.
Muitas empresas inovadoras utilizam as figuras dos evangelizadores, contratados para difundir, convencer e divulgar as inovações desenvolvidas. Empresas de tecnologia como IBM e Apple utilizam essa ideia para promover suas novidades, criando maior capacidade de convencimento para rápida adoção delas.
Um dos evangelizadores mais conhecidos do mundo é Guy Kawasaki, que ajudou a tornar o Machintosh em um sucesso de vendas na década de 80. Seu desafio era convencer as pessoas comuns do porquê ter um computador em casa, algo que até então era reservado apenas para engenheiros e amantes de tecnologia.
Voltando a citar Steve Jobs e sua grande capacidade de comunicar as inovações desenvolvidas, em 2010 ao anunciar a chegada do iPad, ele destacou que não bastava apenas admirar a novidade, era preciso tocá-la: "Tenho que dizer... vê-lo não é nada comparado a pegar um nas mãos e sentir tudo isso, bem debaixo de seus dedos...". Adaptando o ditado: não basta ser inovador, é preciso parecer inovador.
Felipe Scherer é sócio-fundador da Innoscience, professor da ESPM-SUL e autor do livro "Gestão da Inovação na Prática"
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